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Esporte

Vice na Copa Ouro é choque de realidade importante para a seleção feminina antes de Paris; análise.

Fonte: Globo

Derrota para uma seleção americana também em processo de renovação mostra que ainda falta lapidação à equipe, e isso não é nenhum desastre.

A primeira competição oficial de Arthur Elias à frente da seleção brasileira feminina terminou como um bom laboratório para os próximos desafios do treinador, especialmente os Jogos de Paris-2024, principal objetivo do ano. Faltou o título? Sim, e é óbvio que a conquista da Copa Ouro Feminina da Concacaf seria muito bem-vinda. Mas a derrota na final para os Estados Unidos soa como um importante choque de realidade.

As cinco vitórias anteriores no torneio ajudaram a dar confiança ao grupo. Esse é o ponto positivo da campanha. O vice no fim, diante de uma seleção americana também em processo de renovação, mostra que ainda falta lapidação até alcançar, enfim, o sonhado título de expressão para mudar o patamar do futebol feminino brasileiro. E isso não é nenhum desastre.

Agora, um parênteses necessário, para tentar deixar definitivamente para trás uma ferida que ainda incomoda. O Brasil construiu com Pia Sundhage um modelo de jogo que tinha sua força no meio do campo e na troca de passes. A tal compactação que a treinadora sueca tanto cobrava. Tivemos alguns bons momentos com esse estilo – o empate com a Inglaterra e a vitória sobre a Alemanha, pouco antes da Copa de 2023 foram, talvez, os mais marcantes. Tivemos uma forte decepção com a queda precoce no Mundial. Para muitos, faltou força no ataque.

Arthur Elias traz uma seleção que joga de outra maneira. É mais ofensivo, como muitos querem. Sai o jogo compacto, de posse de bola, entra a velocidade e a busca do gol a todo momento. Já deu certo e já deu errado em amistosos. Teve bons momentos na Copa Ouro, e não foi suficiente na decisão contra os EUA. Ou seja, não há modelo perfeito de jogo. Pia melhorou a seleção em alguns pontos, não conseguiu em outros. Arthur colocará seu estilo, vai ganhar e vai perder com ele. É do jogo. Não precisa haver competição entre a seleção de antes e a de agora. Fecha parênteses.

Brasil joga bem 20 minutos e só

Voltemos à final da Copa Ouro. Por 20 minutos, o Brasil encurralou os Estados Unidos com o seu jogo extremamente ofensivo. Antônia, Duda Sampaio, Gabi Nunes e Gabi Portilho tiveram chances reais de abrir o placar. Mas, aos poucos, a seleção americana foi entrando na partida, e aí valeu a experiência de jogadoras como Crystal Dunn, Lindsey Horan, Emily Fox, Rose Lavelle e Alex Morgan, todas campeãs mundiais. Mesmo se renovando, os EUA têm esse lastro de experiência, e isso conta muito.

Foi dos pés de duas veteranas que saiu o gol da vitória americana: Fox cruzou alto da direita, e Horan cabeceou na segunda trave. Uma triste coincidência: cruzamento alto, cabeceio quase no bico da pequena área. Já vimos esse filme na Copa (Wendie Renard) e depois em amistoso contra o Canadá (Jordyn Huitema). Estamos cansados dessa reprise.

Brasil sem destaques na decisão

Dessa vez, o Brasil não repetiu as boas atuações anteriores na Copa Ouro. Um dos motivos pode ser, claro, o nível do adversário, o primeiro de alto escalão que a seleção enfrentou na campanha. Houve também uma certa desorganização coletiva, especialmente no segundo tempo, fruto da ansiedade pelo empate. E também contribuiu para a derrota um apagão de atuações individuais. Não houve um só destaque na decisão, quase todas estiveram abaixo do que podem render.

Se o Brasil tivesse conquistado a Copa Ouro, quem sabe abrindo o placar em um daqueles bons ataques iniciais e conseguindo segurar as americanas, estaríamos prontos para as Olimpíadas? Claro que não. E a derrota na final serve exatamente para isso: deixar as expectativas mais realistas. A seleção de Arthur Elias está construindo seu modelo de jogo, que não precisa ser comparado com nenhum outro. Precisa ser aprimorado.

Em abril, haverá a SheBelieves Cup, outra chance para lapidar a equipe para as Olimpíadas. E em Paris estaremos em um ponto não muito diferente do que estávamos em Tóquio, há três anos, ou até mesmo na Copa do ano passado: com uma equipe bem treinada, competitiva, com direito até de sonhar, por que não?, com um grande resultado. A seleção ainda espera justamente aquele jogo especial, aquela vitória que muda o patamar. Não foi dessa vez. Mas o caminho está aí, sendo pavimentado pouco a pouco.

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