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Esporte

Palmeiras no nome, Corinthians nas cores: clube une rivais no interior de São Paulo

Xará do Verdão usa as cores do Timão e é xodó da torcida em São João da Boa Vista (SP)

Um alvinegro que atende pelo nome Palmeiras. A combinação é curiosa por reunir nome e cores de dois dos maiores rivais do futebol brasileiro.

Isso pode parecer confuso para aqueles que estão na espera do clássico entre Palmeiras e Corinthians, nesta segunda-feira, às 20h, na Neo Química Arena, pelo Brasileirão, mas não há qualquer constrangimento ou equívoco para quem é de São João da Boa Vista, cidade do interior de São Paulo, localizada a cerca de 200 km da capital do estado.

O estádio Getúlio Vargas, que fica no cruzamento da Rua das Palmeiras: só a grama é verde — Foto: Carlos Alciati Neto

O estádio Getúlio Vargas, que fica no cruzamento da Rua das Palmeiras: só a grama é verde — Foto: Carlos Alciati

Palmeiras Futebol Clube, fundado em 12 de janeiro de 1924 na cidade paulista e conhecido como “Palmeirinha”, já nasceu com as cores preto e branco e quando o xará da capital ainda se chamava Palestra Itália. O nome, portanto, não faz referência ao Verdão, e sim a outro clube da capital do estado.

– Como em São Paulo o grande destaque era a Associação Atlética das Palmeiras, que ganhava praticamente tudo nas décadas de 1910 e começo da década de 1920, o nome Palmeiras veio da Associação Atlética das Palmeiras, que era um clube com uniforme preto e branco – conta o historiador Antônio Carlos Nogueira de Oliveira, o Leivinha.

O historiador e jornalista de São João da Boa Vista Antonio Carlos Nogueira de Oliveira na sala de troféus do Palmeiras  — Foto: Carlos Alciati Neto

O historiador e jornalista de São João da Boa Vista Antonio Carlos Nogueira de Oliveira na sala de troféus do Palmeiras — Foto: Carlos Alciati Neto

Outra influência para a escolha do nome foi o Largo das Palmeiras, em São João da Boa Vista, onde aconteceu a reunião definitiva para fundação do Palmeiras alvinegro. Hoje o local se chama Praça Coronel José Pires.

Para Guará, ex-jogador do Palmeirinha, o clube conquistou respeito durante sua vida profissional, mas a combinação do nome com as cores sempre causou curiosidade.

– No início soou um pouco estranho, porque Palmeiras preto e branco é realmente diferente. A história do Palmeiras foi muito bonita. Tudo valeu muito a pena. No começo era meio pejorativo, mas na medida em que foi passando, os adversários foram sentindo a força do Palmeiras e o respeito existiu durante todo esse tempo que a gente pôde jogar – lembrou o ex-atleta.

O goleiro Teté, do Palmeiras, ao lado de Ronaldo, ex-goleiro do Corinthians, durante amistoso — Foto: Reprodução/www.leivinha.com.br

O goleiro Teté, do Palmeiras, ao lado de Ronaldo, ex-goleiro do Corinthians, durante amistoso — Foto: Reprodução/www.leivinha.com.br

O ex-goleiro Ronaldo também achou estranha aquela combinação quando houve um jogo amistoso em 1989 entre o Corinthians e o Palmeirinha. O Timão, à época, além do camisa 1, tinha em seu time jogadores como Neto e Paulo Sérgio, e venceu o “dérbi” por 2 a 0.

– Foi uma tiração de sarro, o goleiro Ronaldo ficou impressionado de o Palmeiras usar preto e branco – recordou Leivinha, que também convive com perguntas de amigos torcedores do xará mais famoso.

– Faço parte de um grupo em São Paulo que se reúne no estádio do Pacaembu e toda vez que eu chego lá eles me perguntam se o Palmeiras de São João já mudou de cor – diz bem humorado.

O duelo entre os dois Palmeiras também já aconteceu, mas entre as equipes máster. O ídolo da Academia, Ademir da Guia, liderou a vitória do Verdão por 3 a 1.

Sport Club Corinthians Sanjoanense enfrentou o Palmeiras de São João, mas rivalidade não repetiu a da Capital — Foto: Reprodução/www.leivinha.com.br

Sport Club Corinthians Sanjoanense enfrentou o Palmeiras de São João, mas rivalidade não repetiu a da Capital — Foto: Reprodução/www.leivinha.com.br

Houve também na cidade uma tentativa de estabelecer um “dérbi” contra o Corinthians Sanjoanense. Em 1958, o Palmeirinha levou a melhor no chamado “Torneio Extra”, mas a rivalidade não prosseguiu, pois o xará do Timão fechou as portas.

O grande rival do Alvinegro foi a Esportiva Sanjoanense, que é tricolor como o São Paulo e revelou ao futebol brasileiro dois zagueiros bicampeões do mundo em 1958 e 1962: Bellini e Mauro Ramos de Oliveira.

Cidade acima da rivalidade

Em época de dérbi paulista, corintianos e palmeirenses de São João da Boa Vista se dividem, mas todos deixam claro que o Palmeiras alvinegro é a prioridade.

– Por tudo que ele representa pra cidade de São João da Boa Vista, pra minha família, acho que vale a pena fazer esse esforço. (…) É engraçado [ter nome do rival e cor de outro rival], a gente diz que é cômico para não dizer trágico – comenta a torcedora Lívia Campos, aos risos.

– O preto e branco fica muito bonito na camisa do Palmeiras, mas no de São João da Boa Vista. No Verdão não tem como – diz o palmeirense Erasmo Germinari Neto.

Torcedores do Palmeiras em frente ao estádio Getúlio Vargas, do Palmeiras alvinegro — Foto: Cairo Oliveira

Torcedores do Palmeiras em frente ao estádio Getúlio Vargas, do Palmeiras alvinegro — Foto: Cairo Oliveira

Além da curiosidade

A história do Palmeiras de São João da Boa Vista tem muito mais do que a curiosidade de seu nome e das cores. O time viveu seu auge em 1979 e chegou a conquistar o título da Segunda Divisão, equivalente à Série A3 atualmente. O artilheiro da competição foi o atacante Mirandinha, então recém-chegado da Ponte Preta.

Mirandinha beija a taça do título de 1979: coração é duplamente palmeirense  — Foto: Carlos Alciati Neto

Mirandinha beija a taça do título de 1979: coração é duplamente palmeirense — Foto: Carlos Alciati Neto

O ex-jogador foi a principal revelação do clube. Depois de passar pelo time de São João da Boa Vista, ele jogou por Botafogo, o xará Palmeiras da capital, Corinthians, Santos, Seleção Brasileira e foi pioneiro no futebol inglês na década de 1980.

– É o [jogador] que tem mais lembrança por parte da torcida do Palmeiras. Foi o primeiro jogador brasileiro a ingressar em um clube do campeonato inglês, que foi o Newcastle [de 1987 A 1989]. Esse ficou guardado na memória de todos que acompanharam a fase mais recente do Palmeiras – contou Leivinha.

Ex-jogador Mirandinha atuando pelo Newcastle — Foto: Reprodução

Ex-jogador Mirandinha atuando pelo Newcastle — Foto: Reprodução

Em 1998, a equipe de São João da Boa Vista disputou pela última vez uma competição profissional, a então quinta divisão do futebol paulista, e após ser eliminado na primeira fase, encerrou as atividades profissionais.

Palmeiras de 1979. Em pé: Dadá, Gaúcho Lima, Carlinhos, Nórinha, Hamilton, Nonato, Roberto, Írzio e Helvécio; agachados, Guará, Ari, Titica, Mirandinha, Carióca, Piau e Charuto — Foto: Arquivo/www.leivinha.com.br

Palmeiras de 1979. Em pé: Dadá, Gaúcho Lima, Carlinhos, Nórinha, Hamilton, Nonato, Roberto, Írzio e Helvécio; agachados, Guará, Ari, Titica, Mirandinha, Carióca, Piau e Charuto — Foto: Arquivo/www.leivinha.com.br

Atualmente, o estádio Getúlio Vargas, de propriedade do Palmerinha, só recebe jogos de futebol amador. De acordo com o vice-presidente José Cláudio Ferreira, um retorno às competições oficiais não está nos planos em curto prazo, mas a atual direção prevê a volta das categorias de base.

– Nós estamos adaptando esse espaço do estádio de acordo com as exigências dos bombeiros e da Federação Paulista de Futebol (FPF) e acredito que para o ano que vem já devemos ter alguma novidade caso não tenha nenhum imprevisto. Estamos trabalhando para isso – concluiu Ferreira.

Sede social do Palmeiras Futebol Clube, em São João da Boa Vista — Foto: Carlos Alciati Neto

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